Conversa com Coletivo Distruktur
Por Bárbara Bergamaschi
No terraço onde o cineasta Glauber Rocha filmou a célebre cena de “Terra em Transe”, um grupo de alunos da Escola de Artes Visuais do Parque Lage filmava o verde das montanhas do maciço da Tijuca através das lentes de uma câmera da U.R.S.S.. Como explicar o uso de uma câmera obsoleta do período da Guerra Fria em pleno calor tropical carioca?
O exercício com a película em 16mm, fez parte do curso de férias “Subversões Fotoquímicas”, realizado pela dupla Melissa Dullius e Gustavo Jahn, fundadores do Coletivo Distruktur (https://distruktur.com/). Por conta de minha pesquisa de doutorado me inscrevi no curso onde pude acompanhar de perto o processo de produção, filmagem, revelação em laboratório dos filmes artesanais da dupla de artistas. A partir deste primeiro encontro a dupla aceitou conceder uma entrevista inédita para a Revista Beira.
Naturais do Rio Grande do Sul e de Santa Catarina, hoje residentes do velho continente há 13 anos, Melissa Dullius e Gustavo Jahn contam com mais de 10 filmes em sua filmografia, realizados exclusivamente com tecnologias analógicas de Super 8 e 16mm. A dupla começou a fazer filmes em Porto Alegre no ano 2000, mudou-se para Berlim em 2006 e juntou-se ao grupo fundador do coletivo LaborBerlin, quando passou a incorporar práticas experimentais de filmagem e revelação ao seu processo criativo. Além de conceber e produzir filmes, trabalham também como atores, músicos e técnicos de laboratório de cinema, realizando grande parte da pós-produção de suas obras. Seus trabalhos tomam forma no gênero que conceitua-se como cinema expandido, sendo não apenas exibidos de forma tradicional nas salas de cinema de festivais do mundo todo, mas também como instalações, filmes performance, fotografias, textos e materiais gráficos.
O filme que ganhou maior projeção e distribuição nas salas de exibição comercial no Brasil foi o longa-metragem Muito Romântico (2016), selecionado para festivais como Forum Expanded da Berlinale, Festival de Turim, Semana dos Realizadores, entre outros. A partir de Muito Romântico o público das salas de cinema teve contato com o trabalho experimental da dupla que mora em Berlim desde 2006. Distruktur foi homenageado recentemente na Mostra do Filme Livre de 2019, tendo quatro dos seus filmes exibidos pelo festival sediado no CCBB do Rio de Janeiro. A presença cada vez maior do coletivo nas salas de cinema e festivais, demonstra que sua produção tem chamado atenção de críticos e pesquisadores. Boa viagem à todos!
Catete, Rio de Janeiro, Verão de 2018
Disponivel na integra em: https://medium.com/revista-beira/conversa-com-coletivo-distruktur-1a8ce609de26
Registro da Oficina “Subversões Fotoquímicas” (2018). Fotografias de Gustavo Jahn e Melissa Dullius.
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